novembro 09, 2010

A Roda do Ano

Minha proposta é levantar alguns pontos para reflexão a respeito da escolha de se seguir um calendário litúrgico como no hemisfério norte, ou se devemos usar um adaptado à realidade do hemisfério sul. Para isso, vamos retomar alguns pontos.

A Roda do Ano é um assunto que é (re)estudado por mim e, pelo que sinto, pelos meus amigos, a cada novo rito. Ainda que pareçamos repetitivos, não temos uma sede por nos familiarizar com todas as datas e nem com toda a sequência. Damos bastante valor à pesquisa, à reflexão, às novas descobertas. Sempre procurar em que parte do ano estamos na Roda Wiccana nos garante um convívio mais próximo com as energias da Deusa e seu Consorte. E já que estamos aqui, vamos colocar de uma vez por todas as datas. A tabela foi retirada do site www.misteriosantigos.com e apresenta as datas tanto para o Hemisfério Norte (HN) quanto para o Hemisfério Sul (HS).


Sabbat
Oito datas Festivas
Data - Norte
Data - Sul
Samhain
Fim e Início de um Novo Ano
31 de Outubro
30 de Abril
Yule
Solstício de Inverno
21 de Dezembro
21 de Junho
Imbolc
Festa do Fogo (Luz, Sol) – Noite de Brigit
1º de Fevereiro
1º de Agosto
Equinócio de Primavera
Ostara ou Spring – Festa da Fertilidade
21 de Março
21 de Setembro
Beltane
A Fogueira de Belenos - Beltane
1º de Maio
1º de Novembro
Midsummer
Solstício de Verão
21 de Junho
21 de Dezembro
Lughnasadh
Festa da Colheita
1º de Agosto
1º de Fevereiro
Mabon
Equinócio de Outono
21 de Setembro
21 de Março

Bom, como existe uma infinidade de assuntos que podem ser tocados quando falamos de uma Roda do Ano, quero por enquanto apenas ressaltar porque acho importante seguir a roda de acordo com o hemisfério em que você se encontra. Mas só dizer que não devemos seguir a roda do HN não é o suficiente para criar no peito uma sensação enraizada dos motivos que me levam a seguir as datas do HS.

A Wicca é uma religião que conecta o homem à sua essência natural. Ela está voltada para os aspectos da Natureza que se refletem em nossa vida de um modo geral, que vão desde fatos internos, como uma doença, uma alegria, uma tristeza, um luto etc, a fatos externos, como o clima, o ambiente, as outras pessoas etc. Então, quando fazemos parte de uma energia em direção à comunhão com a Natureza, acho plausível que as celebrações sejam motivadas totalmente por ela. Dessa forma, um Rito de Inverno deve ser realizado no inverno, impreterivelmente. Os sabás delineiam o percurso da Grande Deusa e seu Consorte no ciclo da vida, de maneira conjunta com a Natureza. Por exemplo, passamos agora por Beltane. Beltane acontece num momento da primavera bastante propício ao plantio. No mito, de forma geral, Beltane também reflete essa grande fertilidade, pois é esse o sabá em que a Deusa e o Deus fazem sexo. Em Samhain, chega  fim da vida do Consorte (que é o Sol) e todo o hemisfério entra num período de latência, de inverno, de frio, de falta desse Sol. É o momento em que o Deus cruza a linha dos Mortos, tornando o véu que separa os mundos menos denso.

Bom, são só alguns comentários mesmo para eu defender minha posição de seguidor dos sabás de acordo com as estações do hemisfério em que vivo. Acho que escrevi em resposta aos que seguem o calendário do outro lado do mundo. Mas, no fundo, eu não sou cego às motivações. Fomos todos crescidos dentro de uma concepção cristã de religiosidade. Os ritos de passagem e litúrgicos do cristianismo descendem dos Antigos Ritos da Antiga Tradição. Por isso é Inverno no Natal, porque no HN é inverno durante o Natal. Aqui no HS, simplesmente adotamos as festividades sem nenhuma adaptação. Só que pensem comigo: Yule é o sabá que deu origem ao Natal. Tempo de recolha, tempo de nascimento da Criança Prometida (Jesus, para os Cristãos, o Deus Consorte, para os wiccanos). É a partir do nascimento dessa criança que a vida volta a se estabelecer no hemisfério. Essa criança nasce e traz com ela a força vital, o calor. Agora, aqui no HS, o natal acontece no meio do calor, no alto verão. O papai Noel continua sob a neve de roupa de frio, mas é verão. Claro que todas as motivações de oração e reflexão também adaptam-se segundo a liturgia que se escolhe para seguir, mas para mim não me parece sensato celebrar, buscar e sentir a vida quando o verão está ardendo tudo isso lá fora. Parece que cria um descompasso. Mas como no cristianismo tudo já tá virando bagunça e comércio, então as pessoas não notam mais essas que se tornaram peculiaridades, curiosidades, como o motivo pelas festas litúrgicas.

Bom, essa era a minha contribuição de hoje. Um texto sobre rodas do ano, mas principalmente, uma reflexão sobre qual calendário seguir.

2 comentários:

  1. lendo seu texto estive pensando: aqui no sul/sudeste do Brasil, podemos dizer que temos inverno, temos frio. Mas e na Bahia que o inverno é indentificado pelo calor com vento (e algumas chuvas) e o verão pelo calor sem vento e chuva quase nenhuma?

    A Wicca é uma religião nova e aberta, por isso que acho que ja passou da hora da gente deixar de ser colonizados tambem na religião e adequar essa filosofia para as nossas realidades imediatas.

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  2. Gosto muito da ideia. Acho que isso atribuiria um valor mais identitário da nossa wicca, que seria voltada para elementos regionais mesmo. Mas é bastante complicado também pensar nisso, porque a Wicca é uma religião que se baseia bastante nas mitologias, nos panteões, na história. No caso da BA, por exemplo, que tem um verão atípico que rompe com o proprio mito central da roda do ano, não existe uma escolha regional, será? Acho que só se criasse mesmo, porque tanto lá qanto aqui temos o cristianismo, que apagou as práticas antecessoras. Mas eu acho válido o que você levanta. Eu várias vezes quis focar nas contribuições de nossa p´rópria cultura, mas encontra-la em seu estado puro, bruto, não é algo possível. Você sugere algo? Um caminho, uma saída, talvez..

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