novembro 14, 2010

Wicca, e minha fé na ética

... Estou muito honrada em participar dessa roda, poder me sentar próxima ao fogo, ao lado de bruxos tão agradavéis e deliciosos como o Guilherme e o Samilo... Sinto-me feliz em interligar minhas energias nesta espiral.

Vou me apresentar "mágicamente": sou wiccana. E acredito na Wicca.

 Não, não vou estou tratando a wicca como Deusa, mas sim falando da minha fé na wicca como religião e como um todo. Eu acredito no novo, acredito no equilibrio, acredito na busca, acredito na inquietação, acredito nas respirações profundas e na compreensão do silêncio hermético que o universo carrega. Mas acima de tudo, acredito nas realizações práticas da Wicca.

Um dia, eu e meu amigo estavamos conversando sobre como seria bom morar naquelas sociedades pagãs em que temos que plantar nossa comida e viver em profunda comunhão (tanto com gente quanto com a Terra)... E no meio de nossos devaneios meu amigo disse: "seria legal, mas eu não acredito em deuses, não consigo acreditar em nada"... Eu fiquei surpresa, apesar de saber que esse meu amigo não é bruxo, nunca me passou pela cabeça que ele fosse um descrente, por que ele tem um códico de ética pessoal muito bem resolvido. E a minha resposta para ele é o que eu quero compartilhar nessa minha primeira postagem. Eu disse:

Sinceramente, eu não sei se acredito em fadas, em gnomos, em poderes das pedras ou das velas, as vezes consigo ver os deuses individualizados, mas geralmente os enxergo como uma extensão filósofica (humana) do próprio universo, a quem, por razões filósoficas e éticas, chamo de Deusa. Mas, como sensação, eu gosto que existam, eu gosto desses nomes, eu gosto dessas práticas e não creio que isso me faça mais ou menos wiccana do que quem cre em fadas, deuses e espiritos como entidades físicas, porque, sinceramente, o que menos importa na wicca é isso. Pois, primeiro de tudo a wicca é a própria religião do conhecimento, a sabedoria é uma pratica wiccana, pois essa é a sua raiz. A wicca é a religião do agora, e isso é ético, não estou falando um agora em um sentido hedonista ou cético, mas um agora no sentido de entender que o tempo é um só, no sentido de não esperar salvação, mas compreender que é isso o que temos, e é ótimo. É uma religião do aqui, pois, cremos no Universo e no que existe, e por mais que isso pareça óbvio, não é uma prática facil. è mais facil embalarmos nossas carencias em promessas e fantasias de um lugar melhor, é dificil lutar para que o lugar melhor seja aqui. É dificil, pois a negação da materialidade faz parte da construção da nossa identidade, é dificil amar o universo, e entender que todas as coisas são uma só. e que o Deus está na cadeira, na menstruação, nas baratas e nas minhocas. Mas é facil ver a Deusa nesses lugares, pq na wicca não existe profano.


Eu não preciso ir longe para crer na Deusa, crendo no que existe, não preciso de mais nada, mas crer com amor, daí, não é dificil querer entender e revelar dentro de si todas as facetas que a Deusa apareceu para o mundo, seja ela Afrodite, Fada Morgana, Kali, minha mãe, minha irmã, meu gato, minha gripe...

Além de crer no próximo, a wicca é uma religião que exige uma ação, exige o preocupar-se com o outro e é aí que entra a ética. Equilibrio é ética. Se procuramos um equilibrio com o a Deusa, um pulsar do corpo no ritmo do pulsar da Terra, procuramos uma melhor convivencia com o mundo, com as pessoas, com o outro, com o eu. Pois encontraremos a Deusa no mundo, nas pessoas, no outro e no eu. Atingir tudo isso, é atingir a Deusa, por isso toda agressividade deve ser pesada, pq a Deusa tambem é destruição, mas acima de tudo ela é justiça.

claro, não fui tudo isso que eu disse na conversa, foi algo mais parecido com duas linhas... esse meu amigo é vegetariano, anti-assimilacionismo, pró-feminismo, etc etc... ele acredita sim na Deusa, mas com um outro nome: Justiça.

7 comentários:

  1. Discutir Ética e Justia a partir da perspectiva wiccana muito me apetece. Adoro essas discussões. E por isso, vou aproveitar e colocar um pouco de lenha na fogueira. A verdade é multifacetada. Ela é variável de acordo com a realidade de cada um. Cada um enxerga a mesma coisa, o mesmo fato, de maneira diferente. Assim tma´bme´ ecom a verdade. E a Justiça, que sempre - no inconsciente - é aliada à verdade. Ela também seria variável, pensando bem. A Ética como exercício do equilíbrio é um bom plano, mas não sei se Ética comunga necessariamente com Justiça. Temas abertos e polêmicos. Acredito no poder investido à justiça. Mas não acredito que Justiça seja uma peça única, que vista todos os corpos, assim como a ética.
    A Deusa que eu acredito também não está na cor das velas. É gostoso, Gabi, ver que, com o tempo, a gente cresce e aprende mais e vai percebendo um tom na wicca que antes não aparecia. Eu uso as ferramentas, as velas, as cores, como uma homenagem à Deusa mesmo, e também como ferramentas, instrumentos. Eles ajudam o meu cérebro a condicionar determinados desejos. Algo que eu tenho muito pensado é na auto-sugestão. Se nos auto sugestionarmos, podemos aumentar a probabilidade de alcançarmos nossos desejos. E esse movimento pode contar com auxilios de energias que depositamos no mundo simbolico, para ajudar a emergir de dentro de nós aqui que temos mais de wiccano. E a energia boa que sentimos no peito. De onde vem]:

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  2. Discordo de vc, Gui. Acredito existir apenas uma justiça e apenas um bem.. eles podem ser variaveis pq as necessidades do mundo variam de uma época para outra, mas é claro oq eue é o bem comum... não é justo infligir dor deliberadamente por prazer a outros seres vivos, pois julgariamos extremamente injustos para nós, por isso somos vegetarianos. É justo que todos tenham o que comer, e não consigo ver nada de relativo nessa verdade. Essas são verdades obvias que conseguimos alcançar sem muito esforço, a questão da ética é justamente refletir o que é melhor no nivel individual, para oproximo (é essa a definição de ético), e politica no ambito social... Acho que o pós modernismo e seu fluxo infinito de significados dificulta um pouco que enxerguemos isso... Acredito sim que a Wicca nos auxilia em posturas éticas, pq é uma religião de reflexão. é uma religião de um Todo sagrado, e seria desleal ferirmos o sagrado dentro de cada Todo... mas claro, com essas reflexões não pretendo ser repressora, acho que são coisas que atingimos com a maturidade e não com a imposição...


    já quanto as cores das velas.. adoro cada uma delas, e acho que sou mais credula com as cores do que com qualquer outra coisa, seria isso algo legal numa pretendente a fotografa?

    vejo as cores, mais do que como sugestão, mas como estimulos prontos para nos carregar, isso seria legal para discutirmos num tópico proprio, não acha?

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  3. eu tb acho que as velas são como um estímulo. Um estímulo para nós, para nos conduzir aos caminhos do (in)consciente que nos guia até nosso destino. Acho legal mesmo deixar para um outro tópico. Por aqui, deixemos a discussão sobre a ética. No próximo comentário, eu continuo sobre ética.

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  4. Sabe o que eu fico me perguntando? A ética e a verdade, assim como a justiça, são riações nossas. Esses valores não existem fora da nossa organização social. Assim, cada maneira de organizar a sociedade gera maneiras diferentes de entender e lidar com a ética, verdade e justiça. Um bem maior, comum. Não tenho certeza se acredito. Parece-me, às vezes, utópico. Eu atribuo esses valores ao sentimento puro que tenho no coração quando sinto-me próximo da Deusa, como você, quando viu a Lua abrir-lhe um belo e crescente sorriso.
    Bom, você falou da fome. Todas as verdades e justiças relacionadas à fome devem convergir para um mesmo ponto, porque temos tambem um instinto, algo primitivo que não conseguimos ainda transpor (numa sociedade comilona como a nossa - os que têm comida, porque os que não tem...). Acho que em casos em que se trabalhe com resquícios da nossa natureza biológica geram mais união entre todos os bichos-homens/bichas-mulheres (rsrs). Mas nosso cotidiano tem cada vez menos espaço para essas questões do nosso primitivo. Eu penso em coisas mais sociais mesmo, que tenham gerado necessidades sociais a partir de comportamentos sociais, e não a partir da natureza do ser. Por exemplo? Agora não sei citar, mas quando um surgir, eu venho aqui contar.
    Eu acho que a Wicca nos ajuda a refletir muito sobre isso, sobre o poder que temos nas mãos e a maneira como envolvemos outras pessoas em nossas relações de poder. Temos aqui um ponto onde se convergem e se divergem muitas concepções de verdade, justiça e ética. Gosto da Lei Tríplice, que ajuda a manter esse plano mais em ordem, mas no fundo do peito, não consigo enxergar a lei do retorno. Acho que se algo volta, é porque refletiu em alguma coisa que o fez voltar, e não uma lei natural. Acho que isso é um jogo de Ética. Acho que isso é justo? Acho que é necessário, não vejo muito justiça nisso, porque nao devemos interferir no livre-arbítrio de ninguém. Isso é justo, mas é justo também nos colocar um cabresto para que não ropamos com nossos limites proibidos? Livre-arbítrio é uma das utopias mais belas que existe. Tem gente até os dias de hoje que acha que élivre. Isso é verdade? É justo? Ou ético? É disso que eu falo. A Wicca moderna, o neo-paganismo, tem questões que ainda estão longe de serem respondidas. E talvez essa ques~toes não se respondam na Wicca, porque esse não é o foco da Antiga Fé, mas o espaço para as discussões e reflexões a Wicca oferece. Sinto-me um pouco mais confortável na Wicca, mais livre e dono de mim mesmo. Até mais responsável com milhares de coisas. Sinto-me mais justo, ais ético e mais verdadeiro comigo mesmo, mas não sei até que ponto esses meus valores contribuem para o próximo, para o outro. Aí, esses valores rondam apenas meu micro, e eu vou sendo levado pelo macro. Vixi, quanta coisa eu escrevi. Não deve ter uma unidade no texto, mas tem ganchos para continuar a discssão ;)

    - Como eu estava com saudades de nossas conversas!!!!

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  5. Isso me faz pensar no mito de Athena.
    Athena, a deusa da Guerra e da Sabedoria, se apaixonou por uma humana, Pallas, elas se admirou da sabedoria e da inteligencia dessa bela jovem, e passavam seus dias conversando, discutindom trocando idéias. Um dia Pallas morre (ahco que ela cai de um abismo, coisa tão humana, não?)... e Athena desolada junta seu nome ao dela, tornando-se Pallas Athena, a deusa da justiça.

    Esse mito sempre me faz pensar na justiça, seria a justiça uma sintese de nossa humanidade com o espirito divino, isto é, com a Deusa?

    Pois bem, falei da fome, pq sim, sou materalista. Acredito que as relações sociais são produzidas por nossas relações materiais (da-lhe Marx), embora eu não goste da palavra "instinto"... A idéia de que todos possam comer me remete a ideia da igualdade, não no sentindo liberalista da coisa... pode ser utópico, mas eu não me preocupo com isso, gosto daquela frase "seja realista, exija o impossivel", por mais que pareça impossivel hoje, mas nossa realidade não seria impossivel para os gregos. E ja que falei em gregos:

    não me parece distante que exista uma ideia de justiça e igualdade em outras épocas. Pois dos gregos, herdamos a literatura dos dominantes, esses cujo esporte de seus jovens era matar o maior numero possivel de párias em um fim de semana. No entanto, herdamos os mitos de toda a sua sociedade, o mito de Pallas Athena,deusa que se enamora de uma humana, mitos de pescadores, pastores, prostitutas, sacerdotizas, monstros e animais...

    Mas já em Roma temos relatos de escravos, temos greve, temos reforma agraria, Roma tinha o mesmo modo de produção que a Grécia, escravocata, e existiam movimentações sociais em busca de uma justiça muito parecida pela qual lutamos hoje.. o mesmo para a idade média, afinal, ela não teria caído se o povo não se incomodasse com sua situação absurda.

    Embora não goste muito da idéia de que uma era é uma sintese (hegeliana) da outra, por que não pensar que aprendemos ocm a história e herdamos históricamente esse sentimento?

    Como eu disse, não crieo na ética como repressão... como um "cabresto", mas ela vem junto com o alcance de um oceanismo com o mundo... por exemplo: não acho matar errado acima de tudo, tem ocasiões sim que eu sou a favor da morte.. acho que não devem ter valores fixos, mas sim refletidos. Não que isso torne tudo relativo, mas os pesos são os mesmos, voltados a fatores diferentes.

    Por isso a justiça é: a sabedoria e a guerra casada com a inteligencia humana, nós humanos temos o poder de ponderar...

    e lembrando que estamos falando de justiça, e não de bondade... a bondade sim eu acho repressora. mas a justiça, 'a justiça cabe a agressividade, a paixão, a compaixão, a intensidade (agora me afasto um pouco da justiça dos gregos para uma justiça coerente ao nosso momento).. simplesmente pq o conhecimento humano chegou a um ponto que torna ridiculo acreditar em uma razão separada do nosso cotidiano, dos nossos sentimentos e da nossa identidade.

    a justiça não é relativa pq, ela só pode ser compreendida (pensada) em um ambito social mais amplo... e é aqui que entra o pouco que eu aprendi com a thelema, existe uma vontade universal, sim. uma vontade que tende ao equilibrio e por consequencia a paz... o que temos hoje é um grande desequilibrio de tudo...

    pense, estou chamando de justiça, mas não poderia estar chamando de equilibrio?

    o que me leva a pensar: a Deusa pode ser relativa?

    acredito que não

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  6. agora fui eu quem escrevi um monte

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  7. Uau!!! Adorei seu raciocínio. Vou ter que pensar um pouco antes de responder... hehehe. Mas tenho que confessa que você me pegou [;)] Isso vai mudar meu conceito de justiça também. Agora, é muito curiosos você chamar a bondade de repressora. Como a relação parece exótica, você nao gostaria de falar um pouco sobre isso? De repente vale um post ;) Ou um coment aqui mesmo. Mas se sua resposta for grandona, aí compensa um post.

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